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24/09/2013 às 00h00
Braskem pede definições no Comperj
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Por Stella Fontes | De São Paulo
Silvia Costanti/Valor / Silvia Costanti/ValorCarlos Fadigas, presidente: Empresa vai olhar ainda projetos de gás de xisto
Ao mesmo tempo em que dá sequência a sua estratégia de internacionalização - com um projeto bilionário em construção no México -, a Braskem quer ver evoluírem seus planos para o mercado brasileiro. Para tanto, a direção da companhia gostaria de chegar até o fim deste ano a uma definição sobre os preços da matéria-prima, que será fornecida pela Petrobras, e os incentivos fiscais para participação no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).
Entre as alternativas de crescimento, a Braskem também vai olhar com muito interesse oportunidades de investimento em projetos a base de gás de xisto nos Estados Unidos, que marcaram o renascimento do setor petroquímico americano, diante do baixo preço do insumo. E está na disputa pelos ativos de PVC da Solvay Indupa no Brasil e na Argentina.
"A Braskem acredita no projeto [do Comperj] e espera que saia cedo", disse o presidente da companhia, Carlos Fadigas, em entrevista ao Valor. "Não há risco de a Braskem não fazê-lo para privilegiar outro projeto", garantiu. Somente no Comperj, o investimento, ainda sujeito a ajustes em decorrência dos estudos de engenharia em andamento, está estimado em US$ 5 bilhões.
Um dos principais pontos de negociação entre Braskem e Petrobras é relativo ao preço do gás natural, que servirá de base para a produção de polietileno. A companhia defende o uso da cotação americana Mont Belvieu, que tem variado entre US$ 3,5 e US$ 4 por milhão de BTU, mas a inexistência de uma referência doméstica para essa fração do gás, que é usada como matéria-prima pela indústria petroquímica, tem estendido as discussões com a estatal.
Para geração de energia, o gás usado para queima é fornecido pela Petrobras por cerca de US$ 12 o milhão de BTU. A Braskem defende outra precificação para a fração específica do insumo que será usada na fabricação de resinas. "Não existe projeto petroquímico se não houver referência de mercado. Essa é a discussão com a Petrobras: queremos um projeto competitivo."
Neste momento, segundo Fadigas, um grupo de 80 profissionais da companhia está trabalhando na engenharia do projeto. "O projeto Comperj é real. Ele existe", disse o executivo. "Não faz sentido ficar baseado na exportação de recursos naturais. Hoje, 33% de todos os químicos no Brasil são importados", acrescentou.
Enquanto segue a negociação sobre preços da matéria-prima entre Braskem e Petrobras para o Comperj, grandes grupos, como Dow Chemical, Sabic e Formosa Plastics, voltaram à carga com projetos petroquímicos nos Estados Unidos. Até o fim da década, novas unidades adicionarão ao mercado 10 milhões de toneladas de eteno, ou o equivalente a 37% da capacidade instalada americana, para produção de polietileno, segundo dados da consultoria Townsend Solutions. Em todos os casos, a referência de preços é Mont Belvieu.
No México, o contrato de fornecimento de gás com duração de 20 anos, firmado com a estatal Pemex pela joint venture Braskem Idesa, leva em conta a referência americana. Ali, o investimento para produzir 1 milhão de toneladas por ano de polietileno de alta e baixa densidade se aproxima de US$ 4 bilhões, considerando-se capital de giro.
"Vamos sofrer concorrência com os Estados Unidos", reconheceu Fadigas, acrescentando que o México é grande importador da resina. Hoje, o país produz 500 mil toneladas por ano de polietileno, porém consome 1,7 milhão de toneladas anuais. Dessa forma, mesmo com o projeto da Braskem Idesa, que começa a operar em 2015, a produção local não será suficiente para atender a demanda. Mas o fato de os preços da matéria-prima estarem alinhados à referência americana garantirá competitividade aos negócios da joint venture.
A maior petroquímica das Américas também está participando do processo de compra e venda de ativos de PVC da belga Solvay, em Santo André (SP) e Bahía Blanca (na Argentina), numa operação que, segundo fontes de mercado, poderá girar entre US$ 600 milhões e US$ 800 milhões. "O PVC é uma resina importante para a Braskem", disse Fadigas. Em 2012, com investimento de R$ 1 bilhão, a petroquímica inaugurou fábrica com capacidade para 200 mil toneladas por ano da resina em Alagoas.
As duas unidades da Solvay, conforme Fadigas, interessam à Braskem. A fábrica paulista, explicou o executivo, por estar situada em um importante mercado para a resina. Já a unidade na Argentina daria musculatura à petroquímica, que hoje só possui escritório comercial no país. Por ano, afirmou o executivo, o faturamento da Braskem no mercado argentino gira entre US$ 400 milhões e US$ 500 milhões. No ano passado, a receita líquida da Braskem alcançou R$ 35,5 bilhões, com resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) de R$ 4 bilhões.